Pedagogia da Educação de Adultos
A Educação de Adultos enquadrada numa perspectiva de Educação ao Longo da Vida.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
domingo, 11 de janeiro de 2015
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
O desenvolvimento do adulto: conceitos e perspetivas
O
self assumido
Embora
desenvolvam diferentes orientações, porque partem de perspetivas também
diferentes, todos eles apontam para a capacidade do sujeito adquirir, a partir
de determinada fase da sua vida, competências de autonomia, capacidade para se
libertar das influências sociais que contribuíram para a formação da sua
identidade, logo para se transcender, se superar, apoiado nesse self
entretanto formado. Este conjunto de pressupostos é claro
no constructo de auto-actualização de Maslow, que se refere à capacidade que o
sujeito possui para, com base naquilo que é, rever as dimensões e os aspetos
que configuram o seu self. A
tarefa do formador é a de ajudar as pessoas a desenvolver mais integralmente o
que são, a realizarem e a atualizarem mais plenamente as suas potencialidades.
No
caso de Erikson, o autor defende o conceito de integridade, que se traduz na
capacidade do indivíduo se ajustar aos desafios da sociedade. Neste sentido,
embora considere a vida pessoal como integrada num contexto histórico e
cultural alargado, Erikson concebe a existência, no indivíduo, de um núcleo de
partida que tem de se apropriar e adaptar às variáveis socioculturais do mundo
em que vive. considera que o adulto está permanentemente envolvido num processo
de crescimento psicológico, através do qual constrói o seu projeto de vida, se
auto-realiza e auto-determina na procura de um sentido para a sua existência. O
fator que o sujeito manipula em função dessa intencionalidade é o seu self.
Com
este objetivo, Rogers defende o profundo conhecimento pessoal como a estratégia
para que se persigam os objetivos de desenvolvimento pretendidos. Aponta, como
função primordial do formador, o desempenho de um papel semelhante ao de um
terapeuta que auxilia o formando a aprofundar esse conhecimento de si próprio,
com o objetivo de identificar os aspetos em que julga poder mudar, para que se
realize mais plenamente como pessoa.
Finalmente,
Loevinger define fases que conduzem uma trajetória em direção à autonomia,
mapeando o curso de vida com momentos que encerram indicadores de desempenho
que gradualmente possibilitam ao sujeito gerir de forma mais autónoma as suas
posições e decisões.
Esta
conceção de “self assumido”,
descrita nos exemplos dados mas que subsiste noutras conceptualizações do
desenvolvimento do indivíduo na vida adulta, é a que tem prevalecido nas
práticas de educação e formação de adultos.
O self construído
Ao contrário
das perspetivas anteriormente apresentadas, as visões mais atuais do self entendem-no
como um processo contínuo de construção e de adaptação às circunstâncias de vida.
A visão tradicional e
simplista, que entende o desenvolvimento em termos de crescimento e de declínio
e que considera o desenvolvimento do ser humano
terminado no início da idade adulta, está a ser fortemente contestada pela
Psicologia de Desenvolvimento ao Longo da Vida. Este domínio de investigação centra-se
na descrição e na explicação das mudanças ao longo de toda a existência do ser
humano, desde o nascimento até à morte, na análise dos processos de otimização
que o indivíduo utiliza, bem como no estudo da constância e da mudança que se manifestam
na conduta humana ao longo de toda a vida.
Segundo Baltes (1999), embora haja processos contínuos
e descontínuos de ação, cujo início, duração e término se situam em momentos
variáveis, nenhum período de vida possui uma importância prioritária. O autor
considera que o desenvolvimento está dependente de um conjunto de variáveis
contextuais, tais como factores ligados à idade, socioeconómicos e acontecimentos
significativos de vida, bem como de outras influências potenciadoras ou
inibidoras do desenvolvimento, como o sexo, a etnia ou o estatuto socioeconómico.
A multidimensionalidade e a multidireccionalidade são algumas
das características que, em sua opinião, enformam o desenvolvimento humano. O
desenvolvimento é multidimensional no sentido em que, ao longo da vida, e num processo
dinâmico, há períodos em que se regista crescimento e períodos em que se
regista declínio, em que existem ganhos e existem perdas; o desenvolvimento é
multidireccional na medida em que é determinado pela ação conjunta e interativa
de diferentes fatores. Considerar a multidimensionalidade e a
multidireccionalidade do desenvolvimento significa que o crescimento e o
declínio não se sucedem linearmente, o que coloca em causa a conceção do senso
comum que relaciona inversamente o acréscimo de idade com a capacidade para adquirir
novas competências e conhecimentos.
Neste quadro de análise do desenvolvimento humano
surgem outros conceitos, tais como otimização seletiva, compensação e
plasticidade, que se traduzem em processos adaptativos que o sujeito põe em
marcha e lhe permitem ir-se ajustando ao mundo e à sua realidade. Quando vê
declinar algumas das suas faculdades, o indivíduo seleciona os domínios de atividade
nos quais quer continuar envolvido, fá-lo em função das prioridades que fixou
para si próprio e utiliza, entre um conjunto de possibilidades disponíveis,
aquela que lhe é mais acessível e que viabiliza o desempenho de qualquer
função.
QUINTAS,
Helena Luísa Martins.
Educação de adultos: vida no currículo e currículo na vida. – (Perspetivas e reflexões; n1). Capítulo 4,
páginas 59-60
ISBN 978-972-8743-43-7 CDU 374. Consultado a 05.01.2015
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Passado e Futuro das Políticas Públicas de Educação e Formação de Adultos
Valoriza-se
hoje a ideia de que o processo de crescimento da pessoa no que se refere à
aquisição dos saberes e conhecimentos necessários a viver num mundo complexo,
já não tem lugar num único tempo e num único espaço, como se aceitava no
passado.
O grande
desafio que se coloca às nossas sociedades, aos sistemas formais de educação e
formação e a cada um de nós, é a aceitação de que a aprendizagem tem lugar
permanentemente, ao longo de toda a vida, em múltiplos tempos e nos mais
diversos locais. Assim, o repto que se coloca de há uns anos a esta parte, e
cada vez mais se colocará no futuro aos sistemas de EFA, é o de responder
simultaneamente a cada uma das pessoas e a uma economia cada vez mais
globalizada e marcada por um grau muito elevado de imprevisibilidade.
Nesta
economia o desemprego assumiu e continua a assumir proporções verdadeiramente
terríveis, sobretudo para aqueles que detêm menores níveis de qualificação e de
capacidade de adaptação a situações novas.
Todo o
processo de educação e formação – diz-se, sobretudo quando se trata de adultos
- deve estar centrado no sujeito, que deve apropriar-se do seu itinerário
formativo, refletindo sobre as suas práticas mas tendo, também, em consideração
as relações que estabelece com os outros e com o contexto em que se insere.
Quer isto dizer que a formação deve, para além da informação, investir
fortemente no “aprender a aprender” preparando o sujeito para intervir em todas
as dimensões da vida em sociedade: a família, o trabalho, a comunidade, o
lazer. As empresas mais competitivas é isto que fazem.
A tarefa dos
processos formativos não se pode limitar, portanto, a fornecer informação, mas
deve procurar dar às pessoas os instrumentos para melhor selecionarem e
tratarem essa informação de forma crítica, de modo a transformá-la em
conhecimento, facilmente mobilizável.
Não se trata,
portanto, de providenciar aos adultos os mesmos conteúdos, com a mesma
organização curricular que muitos já experimentaram na escola e rejeitaram, por
razões diversas.
A educação e
a formação têm de ser mais flexíveis, isto é, adequadas aos grupos, às suas
necessidades e expectativas, o que implica fazerem apelo à participação activa
de cada um. A flexibilidade aumenta a produtividade dos processos formativos,
reduz os custos e faz progredir a eficiência interna e externa dos sistemas de
educação e formação.
A questão
central que se colocou com a criação da ANEFA, foi precisamente a de como
conceber e organizar sistemas de educação e formação que permitissem a construção
de múltiplos itinerários que respondessem, simultaneamente, à necessidade de
reconhecer e validar as aprendizagens adquiridas em contextos não formais e
informais, à necessidade de preparar para o exercício de uma cidadania ativa e
para os novos perfis profissionais exigidos por uma economia cada vez mais
competitiva, por mudanças tecnológicas cada vez mais rápidas.
Foram aqueles
os pressupostos em que assentou a conceção e operacionalização das diversas
ofertas educativas e formativas então postas em prática: os Cursos EFA; as
Ações Saber +; os Clubes Saber +; os Concursos Anuais de Boas Práticas de EFA;
mas, sobretudo, os processos de reconhecimento, validação e certificação de
competências.
Aliás, no
centro desta mudança esteve precisamente a conceção e adoção dos Referenciais
de Competências-Chave (então o do nível básico) que fez descolar a educação e
formação de adultos do modelo escolar, para um modelo centrado em competências
a adquirir ou reforçar, de acordo com temas de vida significativos para cada
grupo e em função dos desempenhos exigidos a cada adulto no seu quotidiano.
António
Firmino da Costa (1) afirmava, em
2002, que “contra o que têm sido os preconceitos e as inércias habituais,
apostou (se) na estratégia, hoje em dia decisiva, de interligar competências
formalizadas e competências informais, complementando-as reciprocamente, para
que as primeiras não se esgotem em aprendizagens escolares ritualizadas e
descontextualizadas, por um lado, e as segundas não permaneçam apenas enquanto
rotinas profissionais fixas e circunscritas, não transponíveis, não
generalizáveis e não atualizáveis, por outro.”
Este modelo,
hoje muito questionado internamente, mantém, do meu ponto de vista, toda a
relevância e oportunidade, tendo sido objeto de avaliações extremamente
positivas como um modelo inovador, quer ao nível nacional, quer mesmo ao nível
das instâncias internacionais que realizaram estudos e exames temáticos sobre
Portugal, como a OCDE.
Ora, apesar
do debate que atualmente se trava sobre a relevância de uma aprendizagem por
competências, aquela afirmação mantém, creio, toda a pertinência, pois a
circulação alargada de pessoas exige certificações transportáveis, rapidamente
identificáveis e reconhecíveis socialmente.
Não é por
acaso que, em 2012, a OCDE afirma “Em resumo, as competências transformaram-se
na moeda de troca global das economias do século vinte e um (2).
A estratégia
iniciada em 1998 teve, até agora um percurso bastante atribulado, mas continua
a ser imprescindível dar prioridade à qualificação de toda a sociedade, sem
exclusões, continua a ser condição de garantia de um tecido produtivo
sustentado, pois a competitividade situa-se hoje na confluência de dois
sistemas: o da produção e o da formação das pessoas.
Será um
retrocesso enorme se, por falta de investimento em processos sérios de
monitorização da qualidade e de mecanismos de apoio à operacionalização de
estratégias formativas inovadoras, se desvirtuar, escolarizando, estas
oportunidades de aprendizagem.
Os adultos
portugueses precisam e querem mais competências e mais certificação das
competências que possuem.
Ana Maria
Canelas - Associação O Direito de Aprender
(1) Educação e
Formação de Adultos: Fator de Desenvolvimento, Inovação e Competitividade. ANEFA, Dezembro 2002.
(2) In: Better skills. Better jobs. Better lives.
The OECD skills strategy. 2012. p. 3
População (%)
que atingiu pelo menos o nível secundário de educação (12º ano), no grupo de
idade 25-64 anos, na UE27 e Portugal
Ano
|
União Europeia
(27 países)
|
Portugal
|
2000
|
64,4%
|
19,4%
|
…
|
…
|
…
|
2005
|
69,4%
|
26,5%
|
2006
|
69,9%
|
27,6%
|
2007
|
70,7%
|
27,5%
|
2008
|
71,4%
|
28,2%
|
2009
|
72%
|
29,9%
|
2010
|
72,7%
|
31,9%
|
Fonte: Estado
da Educação 2011: A Qualificação dos Portugueses. CNE, Dez.2011
Consultado a 15.12.2014,
disponível em
http://www.direitodeaprender.com.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=708&Itemid=5
A educação, na sociedade atual, enfrenta aspetos que também eles são o retrato de uma evolução social.
Algumas tensões que a educação deve, pelo menos, tentar ultrapassar, são:
A educação, na sociedade atual, enfrenta aspetos que também eles são o retrato de uma evolução social.
Algumas tensões que a educação deve, pelo menos, tentar ultrapassar, são:
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